Por: Luís Antonio Soares
Conforme vimos em algumas de nossas postagens anteriores, Ivoti (Apenas 53 km de Porto Alegre) é um daqueles munícipios, que sempre oferecem lugares belos e aconchegantes para as pessoas à procura algum contato com a natureza, na região metropolitana de Porto Alegre. Então pensando nisso decidimos falar hoje sobre um roteiro, que se enquadra perfeitamente nesta descrição, o Teufelsloch (Buraco do Diabo).
Conhecendo o Núcleo de Casas Enxaimel do Teufelsloch.
O “Teufelsloch” (Em alemão) ou Buraco do Diabo (Em português), é o nome de um trecho no bairro Feitoria Nova, onde foram assentadas diversas famílias de origem alemã, vindas em maioria da região do Hunsrück, por volta de1826 . Estas famílias instalaram-se nos 48 lotes de terra distribuídos ao longo do Arroio Feitoria; onde construíram suas moradias e iniciaram seus cultivos. Sendo que algumas das moradias construídas neste período, podem ser observadas em um dos principais pontos turísticos do município, o Núcleo de Casas Enxaimel.
As habitações, erguidas na primeira metade do século XIX, foram feitas em estilo enxaimel; Caracterizado por edificações com estrutura aparente de madeira geralmente, guajuvira e angico, fixadas através de encaixes e tarugos de madeira.
A revitalização do espaço (Que possui um dos maiores aglomerados de casas Einxaimel do Brasil), inicialmente idealizada na década de 1980, tornou-se uma das prioridades da administração local no início dos anos 90, quando passou a vista como uma possibilidade para o turismo local, sendo criada no ano 2000 a Rota Colonial Teufelsloch, para a qual certamente, ainda dedicaremos uma postagem.
Porque o Lugar tem esse nome?
Existém várias verções sobre a origem do nome, porém a mais conhecida é a de que ainda nas primeiras décadas colônia, os moradores que circulavam pela região da Ponte do Imperador (principalmente após o anoitecer), teriam cruzado com uma criatura misteriosa que se movia nas sombras ou no meio do brejo, assustando cavaleiros e pedestres. Então surgiu a lenda de que uma criatura infernal, ou que o próprio coisa ruim espreitava a localidade, deste modo apelidada com o nome Teufelsloch, que em alemão significa Buraco do Diabo (Por se tratar de um terreno acidentado). Mais tarde, com o devido conhecimento sobre a fauna local os moradores entenderam que a criatura misteriosa, não era nenhum ser das trevas e tão pouco o “pai da maldade”, mas sim inofensivos tamanduás, nativos da região.
“Nos primeiros anos, o estranhamento do ambiente novo foi grande e até tamanduá foi confundido com o "diabo", era difícil adaptar-se a vida nas matas subtropicais e por isso até hoje, um dos lugares mais encantadores da cidade é chamado de "Buraco do Diabo", local que preserva o Núcleo de Casas Enxaimel restaurado, servindo de ponto de referência e identidade da comunidade ivotiense.”
Prefetura municipal de Ivoti.
Além do belo “cenário”, encontram-se também no Núcleo o Museu Cláudio Oscar Becker e a Casa do Artesão, sendo também o local de realização da Feira colonial de Ivoti. A visita ao Teufelsloch é uma ótima opção para quem procura um passeio que ofereça lazer e aprendizado. Pois através da paisagem, dos locais de memória e da culinária local, é possível vivenciar vários aspectos da história da colonização e o modo de vida dos imigrantes alemães, em Ivoti.
LUGARES PARA VOCÊ VISITAR NO TEUFELSLOCH. A Feira Colonial de Ivoti.
Uma saborosa opção nos passeios ao Teufelsloch é a FEIRA COLONIAL; criada em 2008, acontece no segundo domingo de cada mês, no Núcleo de Casas Enxaimel da Feitoria Nova. Nela, o visitante encontra produtos coloniais, agroecológicos e flores. É uma oportunidade para quem quiser adquirir produtos de qualidade e com bons preços, diretamente do produtor, enquanto contempla as belezas do passeio.
A Ponte do Imperador
Outro belo cenário oferecido pelo Teufelsloch, é a Ponte do Imperador. Construída entre 1857 e 1864, para impulsionar o escoamento de sua produção local, possibilitando o desenvolvimento da região. Recebeu esse nome em homenagem ao então imperador D. Pedro II, que destinou 30 contos de réis para a obra de construção.
Museu Cláudio Oscar Becker
O espaço fundado no ano de 1995, destinado à história da cidade; foi montado dentro de uma casa em estilo enxaimel construída no período da colonização (1830).
O Museu destaca, em especial, a composição de uma casa de família alemã, entretanto, com sua nova proposta de expografia - e de ações - explora outras histórias a fim de garantir a diversidade cultural.
Atendimento: de terça a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 13h às 17h, e nos sábados e domingos, das 8h30 às 17h – entrada franca. Obs. Em função da pandemia de Covid-19, os museu não esta aberto a visitação.
CASA AMARELA
O prédio, em estilo eclético, foi construído em 1907; “sofreu com um incêndio em 2005, que destruiu parte de sua estrutura. Com 224 metros quadrados de área, a casa possui seis aposentos e serviu de entreposto comercial na década de 1940.
Mais tarde, com a grande enchente da década de 1960, ocorreu um processo de abandono. A partir do período de restauro, passou a abrigar um restaurante, que serve a culinária típica alemã.
Contato: (51) 99710-3779.
CASA DO ARTESÃO
Localizada junto ao Núcleo de Casas Enxaimel, a Casa do Artesão está instalada em uma construção datada do início do século XIX. Trabalha com a comercialização do belo artesanato local. Entre os itens à venda estão objetos de decoração, quadros, panos de prato, roupas, utensílios de cozinha, etc.
Endereço: Rua da Cascata, s/nº – Bairro Feitoria Nova
Contato: 3563.6123
Conhecendo um pouco sobre a História do Núcleo do Teufelsloch.
Nos primeiros anos após a independência o Imperador Dom Pedro Primeiro precisava povoar a região sul do Brasil, que fora pouco explorada até então. Para assegurar suas fronteiras e garantir a integridade territorial do império era fundamental a ocupação desta região; deste modo viu-se no recrutamento de imigrantes a solução para tal questão; para tanto optou-se pelo recrutamento de alemães.
Coube ao Major Georg Anton von Schäffe a missão de formar uma equipe de oficiais, que se espalhou pelos reinos e estados alemães para tentar convencer as pessoas a emigrarem para o Brasil. Os oficiais do império ofereciam: o custo da passagem de vinda para o Brasil, cidadania, lotes de terra, ferramentas suprimentos para as primeiras necessidades e liberdade de culto, entre outras “vantagens”.
Após os doze anos de duração das Guerras Napoleônicas, os reinos e estados alemães (assim como grande parte da Europa continental) passavam por sérias dificuldades e crises. Durante este período muitos artesãos e camponeses alemães estavam sem emprego em função do processo de mecanização do trabalho. Tais fatores, somados com as promessas do governo brasileiro resultaram na partida dos primeiros 39 imigrantes alemães, em busca de uma vida melhor, rumo ao Brasil, abordo do navio “Caroline”, em dezembro de 1823.
Os 39 imigrantes chegaram à Porto Alegre em 18 de julho de 1824, após uma escala no Rio de Janeiro, sendo encaminhados pelo então Presidente da Província José Feliciano Fernandes Pinheiro (que mais tarde recebeu o título de Visconde de São Leopoldo) para as dependências da antiga Real Feitoria do Linho-Cânhamo (Que havia sido desativada em março daquele mesmo ano), onde foram encaminhados para seus respectivos lotes de terra, Sem o cumprimento das demais promessas.
A partir do projeto de colonização e povoamento de partes do então Império Brasileiro, iniciado em 1824; neste contexto, por volta de 1826, a região, onde hoje atualmente é Ivoti, recebeu várias famílias de origem germânica, vindas em sua maioria da região do Hunsrück, na atual Alemanha. Estas famílias instalaram-se em 48 lotes de terra distribuídos ao longo do Arroio Feitoria; onde construíram suas moradias e iniciaram seus cultivos. Sendo que algumas das moradias construídas, neste período, podem observadas, em um dos principais pontos turísticos do município, o Núcleo de Casas Enxaimel , as margens do Arroio Feitoria.
Embora tenham de fato recebido seus lotes de terra, não receberam nenhuma forma de assistência, e tão pouco tiveram as outras promessas do governo brasileiro cumpridas. Sendo assim os colonos percorriam estreitas veredas abertas na mata até chegarem às terras designadas, onde tinham que sobreviver em meio à fauna e flora desconhecidas; construindo suas habitações e preparando o solo para qualquer forma de cultivo possível, com recursos quase nulos.
“ Diante de uma natureza que lhe era completamente desconhecida, pouco ou nada adiantava ao colono a experiência agrícola que porventura trazia das terras de origem. A construção de um abrigo e a obtenção de alimentos eram tarefas que se impunham, de imediato, ao colono para sobreviver. Não tendo recebido o auxílio prometido pelo governo, o trabalho Ah for cumprido tornou-se ainda mais difícil.” (COPSTEIN,1967, P. 48)
As primeiras habitações:
As primeiras moradias construídas pelos colonos alemães eram extremamente simples e muito inferiores às suas antigas moradias, da terra natal. Construídas a partir de quatro postes fincados no solo, as paredes eram feitas com taquarinhas do mato, folhas de palmeira e pendão de milho trançados, colocados entre os troncos e cobertos de barro; por sua vez os telhados destes simples abrigos eram feitos de capim seco.
Tais habitações eram desprovidas de cozinhas, ao invés disso ardia nos arredores da casa um fogo, mantido continuamente, para a feitura dos alimentos; embora fosse feito eventualmente (em períodos de chuva ou frio rigoroso), um fogo de chão no interior das casas; uma que o assoalho das mesmas era feito de chão batido.
Aos poucos, conforme os recursos dos colonos iam melhorando, eles iam aperfeiçoando seus abrigos, até construírem por fim suas moradias definitivas. Moradias estas feitas em um estilo de estilo que mescla a arquitetura de sua terra natal, com a arquitetura das casas luso-brasileiras da região; conforme podemos observar nas no Núcleo de Casas Enxaimel do Teufelsloch.
Outro problema encontrado pelos imigrantes locais foram as cheias do Arroio Feitoria, durante as chuvas de inverno, faziam as aguas transpassarem os limites do arroio arrastando tudo em seu caminho e destruindo boa parte do que as famílias haviam conquistado. Pouco a pouco, os moradores ribeirinhos foram morar nas áreas mais altas da cidade, dando origem ao atual Centro do município.
REFERENCIAS:
COPSTEIN, Rafael; COPSTEIN, Gisela . A FREGUESIA DE SÃO PEDRO DO BOM JARDIM. ORAGON, Revista do Instituto de letras da UFRGS, Porto Alegre, v. 12, n. 12 (1967). Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/38970. Acesso em: 17 Fev. 2021.
BIBLIOTECA IBGE. Ivoti, 2020. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/ivoti.pdf . Acesso em: 28 de jun. de 2020.
CLEMENTE , Moacir . Buraco do Diabo: de lenda a ponto histórico e turístico. Jornal NH, Novo Hamburgo,17 de out. de 2017. Disponível em: < https://www.jornalnh.com.br/2017/10/noticias/regiao/2187170-buraco-do-diabo-de-lenda-a-ponto-historico-e-turistico.html >. Acesso em: 20 de jan. 2020.
KONRAD, Adriana . A política cultural desenvolvida para o Núcleo de Casas Enxaimel e os seus resultados para o município de Ivoti/RS. MOUSEION, Revista do Museu e Arquivo Histórico La Salle, Canoas, n. 30, ago. 2018. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Mouseion/article/view/4675/pdf.
PREEITURA DE IVOTI. História / Turismo. IVOTI, 2020. Disponível em: http://www.ivoti.rs.gov.br/. Acesso em: 14 de jun. 2020.
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